quarta-feira, 27 de maio de 2009

A distinção do Amor

"Com sofrimento descobre-se um Jesus diferente daquele que se descobre com o luxo. Ocorre dessa forma: a dor o força a lidar com o ponto mais fraco de sua personalidade. Você desiste e desanima, mas, em algum momento, a situação torna-se maravilhosa porque você descobre que Cristo o ama apesar de sua fraqueza."
Um cristão egípcio

Com apenas 30 anos, esse jovem egípcio sabia sobre o que estava falando. Convertido e oriundo de uma família muçulmana, ele foi encarcerado e torturado no início dos anos 90. Nu e pendurado pelas mãos, foi agredido com bastões elétricos e colocado em uma diminuta cela escura durante três meses. A cela era apelidada de "a experiência" pelos prisioneiros.

A exemplo de outros prisioneiros, ele não saiu ileso. "Saí abalado, fraco, chorando. Sentado no silêncio da escuridão, apenas com minha própria respiração, senti-me como alguém perdido no deserto". Todos os meus pecados e todas as minhas fraquezas vieram a minha mente em vívidas cores, e vi como eu era fraco. Nem sequer pude sair da tortura parecendo triunfante. Fiquei com vergonha de todas as coisas de que me orgulhava. Até meu testemunho tornou-se objeto de vergonha." Ainda assim foi exatamente isso que lhe trouxe regozijo mais tarde.

"Não existe sentimento no mundo semelhante àquele que enfrentamos ao encararmos nossa própria pecaminosidade absoluta e, ao mesmo tempo, percebermos - sabermos de verdade - que Cristo nos ama exatamente da mesma maneira."

Está é a força da fraqueza personificada, quando um homem pode ser colocado em um buraco mal-cheiroso, despido de todo respeito próprio, e ainda sair mais humano porque foi capaz de se firmar no grande fato que nos faz verdadeiramente diferentes: somos amados por Deus.

É isso que a fraqueza faz. Ela nos força a aceitar o amor de Deus na medida em que nos transforma completamente, mudando-nos da autodependência para a dependência de Deus. É por isso que os perseguidos parecem ser pessoas mais gentis e mais generosas, pois passaram por esse processo.

John Drane, professor de teologia prática na Universidade de Aberdeen, na Escócia, diz que a Igreja ocidental tem crescido principalmente entre aqueles que ele chama de "realizadores corporativos". Segundo ele, essas pessoas "vêm à Igreja para assumir o controle sobre suas vidas. O cristianismo lhes dá um meio de gerenciar os relacionamentos da mesma forma como já gerenciam suas carreiras". No entanto, a última coisa que os "realizadores corporativos" querem ouvir é a respeito de suas fraquezas. Querem ouvir apenas sobre poder. De fato, eles gastam toda a sua vida profissional na negação da existência de uma fraqueza, e, infelizmente, esta é uma atitude que trazem para dentro da igreja. Muitos desses tipos vão em frente, escrevendo livros, dirigindo igrejas enormes ou agências missionárias. No entanto, não sabem nada sobre a fraqueza e, assim, pouco conhecem a respeito de Deus.

Da mesma forma que o apóstolo Paulo diferenciou-se dos "super-apóstolos" de Corinto, orgulhando-se de sua fraqueza, temos de aprender a seguir o exemplo dos perseguidos. Também temos de aprender a orar como fez Lady Julian Norwich: "Fere-me Senhor, porque é somente por meio dos meus ferimentos que posso receber a cura do seu amor."